domingo, 30 de setembro de 2007

Veneza do nosso Amor alagada


Relembra no reflexo dos canais,
Nós, pontes de dois corpos enlaçados,
Almas, que por se quererem demais,
São unhas cravadas nos dedos dados.
'
Escuta ainda na canção submersa,
Que sulca ruas e nos prende os braços;
Os violinos ou o vaso persa,
No Rialto de sonho dos teus passos.
'
Voltar à cidade na vez primeira,
Vendendo luzes ao céu e ao nada.
E entrar contigo num mar sem beira,
'
Assim, com pés de gôndola afundada.
Deixar por fim, e por querer, inteira,
Veneza de nosso Amor alagada.

sábado, 29 de setembro de 2007

As sete do Mundo



Fevereiro…
Duas Velhas Montanhas, desgastadas pela erosão lenta dos dias, o tempo sulcando rugas na nostalgia pálida do rosto e um eterno olhar vítreo e resfolegado, sobrevoando languidamente a solidão. E eis que um leve tocar de mãos enche o peito de música e flores, trocamos de pele, trocamos de sonhos e rasgamos um sorriso largo e imemorial, qual cidade perdida dos Incas, Machu Picchu redescoberto.

Março…
Os teus braços estendendo-se para os meus, como um Cristo Redentor no Corcovado do meu pensamento, e as minhas mãos enoveladas nas tuas para que não mais se soltassem, âncoras de um Amor fogoso e desmedido, raízes de pedra no sabão da Vida.

Abril…
A alvorada rasgada pela ânsia de te amar, explorar cada enclave de ti, cada pedaço grandioso no infinito da tua alma, Petra esculpida na pedra rosada da tua pele. À conquista de pérolas e segredos, em riste o gládio do desejo, e o mergulho demorado no perfume da tua boca, El Khazneh no esboço dos teus lábios.

Maio…
O lençol revolto, Coliseu de fantasia na Roma dos dias, estreando muneras na arena infrene da paixão. Em cada beijo o sorver arquejante de um silêncio macio, elixir viscoso de uma saliva demorada, devaneio sombrio, intermitências de luz, explosão frenética de incontáveis estrelas, quimeras flamejantes, paredes quebradas e o corpo seco, exausto, a nudez adormecida nas ruínas soturnas da noite.

Junho…
A teia do teu pensamento, Templo de ideias, Pirâmide de luz, urdidura de vozes indistintas que afagam e suspiram, Chichén Itzá ornado pelos caracóis volúveis do teu cabelo.

Julho…
Uma seiva ascendente anuncia a despedida, o corpo amolece, liquefeito, dissoluto nas lágrimas não choradas, um adeus suspenso eternizado pelos nossos dedos, incertos e trémulos, e a tomentosa distância que se impõe com crueldade, Muralha da China, vidro sem luz.

Agosto…
Resta a saudade, mausoléu de memórias inscritas na alvura da mármore, palácio de sombra nos jardins do romance, Taj Mahal fitado na lonjura de uma decrépita cela sem grade.



Amo-te.